MATEUS 5.27-32 - “Se preciso for, corta e joga fora”.
As
leituras normativas e dogmáticas dos ensinos de Jesus podem induzir a erros em
sua interpretação, pois como um sábio do seu tempo Jesus ensinava a partir das
vivências de sua época, da cultura do povo judeu à qual pertencia e das suas
regras sociais orientadas pela lei.
Nesse
texto Jesus não está determinando uma regra de proibição ao divórcio ou contra
o novo casamento, pois até em seu tempo isso era permitido. Mas, ele está corrigindo
interpretações tendenciosas, que, como sempre, era realizada pelos homens, os favorecia
e penalizava as mulheres.
Veja
bem, as mulheres naquela sociedade do tempo de Jesus não podiam trabalhar, se autossustentar,
sequer podiam ter vida social para além do interior do lar. Elas dependiam dos
homens de sua vida, pai, irmãos e marido, para sobreviverem. Assim, uma mulher
repudiada, além da vergonha social a que era exposta e rejeição da filha, não
tinha como sustentar a si própria arriscando ter que buscar outros
homens para sobreviver.
Acontece
que bastava “queimar uma panela de arroz” para ser repudiada, ou seja, elas
estavam absolutamente nas mãos de seus homens e dos desejos deles, que
manipulavam a lei em seu favor. Podiam olhar para outra mulher, desejá-la e
arrumar desculpas para despedir a antiga companheira, legitimados por tais interpretações
da lei.
Jesus
percebeu isso! Ele identificou o injusto comportamento social da época e
respondeu a ele. Ele mostrou como se devia interpretar aquela instrução da lei,
e o texto coloca as duas instruções em sequência:
Primeiro:
Não se trata de praticar o ato do adultério, mas qualquer que desejar outra
mulher que não seja sua companheira já está praticando adultério. E o conselho
dele é: controla aquilo que em você te leva a isso, através da figura “se
preciso, corta e joga fora”.
Segundo:
Não repudiem suas companheiras por razões fúteis. Lembrando aqui que naquela
sociedade ela ficaria desamparada. Pois ela pode ter que se se envolver com
outros homens para sobreviver (somente o homem era provedor).
Está
claro que Jesus está defendendo as mulheres nesse texto, num contexto social
que as colocava em absoluta dependência dos homens, portanto, de consequentes
abusos.
Aprendemos
muito com Jesus: 1) chega de interpretações tendenciosas do texto bíblico para
validar praticar abusivas; 2) Tal qual Jesus, a leitura da Bíblia deve ser
realizada pela Igreja e pelos pregadores para defender aqueles/as
desfavorecidos na sociedade e libertá-los; 3) A boa leitura bíblica é denunciadora
das injustiças; 4) Jesus era solidário às mulheres.
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