domingo, 25 de fevereiro de 2024

 



MATEUS 5.27-32 - “Se preciso for, corta e joga fora”.


As leituras normativas e dogmáticas dos ensinos de Jesus podem induzir a erros em sua interpretação, pois como um sábio do seu tempo Jesus ensinava a partir das vivências de sua época, da cultura do povo judeu à qual pertencia e das suas regras sociais orientadas pela lei.

Nesse texto Jesus não está determinando uma regra de proibição ao divórcio ou contra o novo casamento, pois até em seu tempo isso era permitido. Mas, ele está corrigindo interpretações tendenciosas, que, como sempre, era realizada pelos homens, os favorecia e penalizava as mulheres.

Veja bem, as mulheres naquela sociedade do tempo de Jesus não podiam trabalhar, se autossustentar, sequer podiam ter vida social para além do interior do lar. Elas dependiam dos homens de sua vida, pai, irmãos e marido, para sobreviverem. Assim, uma mulher repudiada, além da vergonha social a que era exposta e rejeição da filha, não tinha como sustentar a si própria arriscando ter que buscar outros homens para sobreviver.  

Acontece que bastava “queimar uma panela de arroz” para ser repudiada, ou seja, elas estavam absolutamente nas mãos de seus homens e dos desejos deles, que manipulavam a lei em seu favor. Podiam olhar para outra mulher, desejá-la e arrumar desculpas para despedir a antiga companheira, legitimados por tais interpretações da lei.

Jesus percebeu isso! Ele identificou o injusto comportamento social da época e respondeu a ele. Ele mostrou como se devia interpretar aquela instrução da lei, e o texto coloca as duas instruções em sequência:

Primeiro: Não se trata de praticar o ato do adultério, mas qualquer que desejar outra mulher que não seja sua companheira já está praticando adultério. E o conselho dele é: controla aquilo que em você te leva a isso, através da figura “se preciso, corta e joga fora”.

Segundo: Não repudiem suas companheiras por razões fúteis. Lembrando aqui que naquela sociedade ela ficaria desamparada. Pois ela pode ter que se se envolver com outros homens para sobreviver (somente o homem era provedor).

Está claro que Jesus está defendendo as mulheres nesse texto, num contexto social que as colocava em absoluta dependência dos homens, portanto, de consequentes abusos.

Aprendemos muito com Jesus: 1) chega de interpretações tendenciosas do texto bíblico para validar praticar abusivas; 2) Tal qual Jesus, a leitura da Bíblia deve ser realizada pela Igreja e pelos pregadores para defender aqueles/as desfavorecidos na sociedade e libertá-los; 3) A boa leitura bíblica é denunciadora das injustiças; 4) Jesus era solidário às mulheres.

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