Povo de “dura cerviz”!
Regina Fernandes
Ainda ressoam as
vozes dos seus profetas, eles não se calam,
ao povo que não
era povo, que não tinha nome, que não tinha chão,
de ontem e de
hoje.
E Amós grita em Israel,
-“Suspiram pelo
dó da terra sobre a cabeça dos pobres...
E Miquéias grita
em Judá,
- “As suas mãos
estão sobre o mal e o fazem diligentemente;
o governante
exige condenação; o juiz aceita suborno,
o grande fala dos
maus desejos da sua alma, e, assim, todos eles urdem a trama.”
E os seus
contadores de história e fazedores de culto,
no cerco e no
pavor, visitam seus ancestrais,
e cantam e contam
sua sabedoria,
desde as campinas
de Moabe até a destruição.
Ergam sua voz Ancestros
de nossa fé, contem essa história,
denunciem o mal hoje!
Assim, imaginamos
essas vozes,
no entorno da
fogueira, como em uma visão,
vozes escondidas
nas letras, nas normas, nas regras, nos dogmas.
Vozes que contam
que, há muito tempo atrás...
_ No movimento
dos povos, ao som do lamento
sobre os corpos dos jovens cananitas;
tomaste Canaã e
mataste, e feriste, derrubaste os muros, as casas, as vidas;
não poupaste o
ventre e nem as vozes cansadas.
Querias mais, matar
a esperança,
ao se lançar como
um lobo feroz,que devora a vida precoce, de inocentes, milhares deles.
Povo de “dura
cerviz”,
Que revive sempre
e sempre suas histórias,
Deus te quis
justo. Mas, pisaste a Sedaqah,
E o Deus falante
que te fala;
“Buscai o bem e
não o mal para que vivam...”
“... que
pratiques a justiça, e ames a misericórdia,
e andes
humildemente com o teu Deus.”
Mas não o ouviste
nos sábios,
ainda calaste os
profetas,
Tapaste os
ouvidos para o teu Sábio e Profeta.
Nem teu
sofrimento, povo de “dura cerviz”,
que atravessa toda
a sua história, que comove o Deus de seus ancestrais;
te move para a justiça,
a misericórdia e a humildade da paz?
E, em nome do
deus que criaste, de sangue, de guerra, de morte,
continuas a matar
os teus cananeus, ao som do lamento
sobre os corpos dos jovens; da destruição dos
muros, das casas, das vidas;
dos ventres
perdidos e do silêncio das vozes cansadas.
Continua a matar
a esperança, ao se lançar como um lobo feroz
que devora a vida
precoce, de inocentes, milhares deles, em Gaza.
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