quinta-feira, 30 de setembro de 2021

TEOLOGIA POLÍTICA DE JOHANN BAPTIST METZ

 

 Johann Baptist Metz, teólogo católico alemão articulador de uma forma de Teologia Política europeia, falecido no ano de 2019, foi um dos influenciadores da Teologia Latino-americana, principalmente da Teologia da Libertação. É possível reconhecer traços do seu pensamento nas produções teológicas a partir de nosso continente e isso também se atesta na bibliografia utilizada.

Foi aluno de Karl Rahner, mas preferiu articular a teologia com a prática e com as situações da sociedade de seu tempo. Para Metz era importante ver as incidências da escatologia e da esperança na vida política. Ele não tinha a intenção de criar uma teologia, mas buscava descobrir “um traço essencial da consciência teológica”. O político, a partir do iluminismo, conforme ele, passou por um processo de emancipação e autonomia resultando em outra ordem política – uma ordem de liberdade: onde as estruturas políticas já não são dadas previamente à liberdade humana; estruturas políticas como realidades baseadas na história, assumidas e modificadas pelo humano; história política como história da liberdade;

Em sua teologia política Metz propõe a distinção entre Estado e Sociedade, uma diferenciação antitotalitária que permite diferenciar a esfera pública do Estado ou da Igreja. Segundo ele a falta dessa distinção gerou: teologias políticas autoritárias e repressivas que visavam instaurar um “Estado Cristão”. Para Metz o Político é o lugar próprio da liberdade e afirma que todo pensamento que não considere os questionamentos do iluminismo é pré-crítico; que toda reflexão que dele toma conhecimento é pós-crítica.

Para Metz o Iluminismo e Marx consideraram a religião como uma ideologia que surgiu de estruturas sociais e históricas determinadas, mas, a resposta do cristianismo e da Teologia foi relegar a plano secundário as questões sociais, insistindo em seu aspecto privado. Tratou a vida de fé como opção pessoal e, neste caso, com a necessidade de abstração do mundo social em que se vive. Com isso, ela não respondeu ao iluminismo e às suas questões. Tal versão privada e intimista do cristianismo é própria das teologias transcendentalistas, existencialistas e personalistas.

Diante disso, a primeira tarefa da Teologia Política é a desprivatização da própria fé que permitir criticar “os fundamentos da teologia”. A Tarefa da Teologia Política é determinar o novo tipo de relação entre religião e sociedade, igreja e sociedade, fé escatológica e prática social, ou seja, teoria e prática; fazer uso da reflexão pós-crítica; recuperar para o tempo atual a memória Christi: “Memória da chegada do Reino de Deus no amor de Jesus para com os marginalizados”. Também é seu papel a proclamação da salvação através das promessas de liberdade, justiça e paz, como reservas escatológicas “o cunho provisório de todo estado histórico alcançado pela sociedade”; fazer, com isto, da igreja uma instituição crítica da sociedade. Sua missão crítica se definirá como um serviço à história da liberdade, um serviço de libertação do ser humano.

A igreja, e não o cristão isolado, é então o sujeito da práxis libertadora animada pela mensagem evangélica. Para isso a igreja precisará ser uma instituição não-repressiva; ser uma instituição em segunda-potência, crítica e libertadora; conscientizar-se de que ela não existe em função de si mesma, mas pregando a mensagem do reino de Deus “vive na permanente proclamação de sua precariedade”. Para isso a Igreja precisará de um novo acercamento das Escrituras e de uma nova práxis.

Regina Fernandes

 

 

 

O tema da Tradição em Juan Luís Segundo

 


O tema daTradição em Juan Luís Segundo[1]

A Tradição da Igreja ou Teológica, de acordo com Juan Luís Segundo, diz respeito à elaboração reflexiva e histórica da fé a partir da fé antropológica, num esforço comunitário e constante. Ela utiliza-se da energia barata por ser força conservadora, embora não estática, tendo em vista ser atualizada e revitalizada pela igreja em sua elaboração constante da fé.

No âmbito eclesial a tradição é força viva e de atualização da revelação para as novas situações históricas. A Igreja, comunidade da fé, renova suas tradições, que são fruto da revelação interpretada, ao confrontá-las com as perguntas das situações históricas sempre novas.

A Escritura, produto também da tradição oral, é a força alimentadora da Tradição gerada pela igreja em seu esforço interpretativo e atualização do sentido da Palavra de Deus para os novos tempos. Neste aspecto, a Tradição é sempre viva e geradora de vida e fé.

Conforme Juan Luís Segundo todo esforço de interpretação das Escrituras é contextualizado, tanto em relação ao horizonte bíblico como do leitor e, por isto, é somente aproximativo da verdade que o texto anuncia. Para tal, requer-se uma pré-compreensão decorrente da percepção do tempo e situação histórica de partida para o processo interpretativo.

A Bíblia é um exemplo real do aprender a aprender e esta é a mesma ação por ela gerada. A revelação se dá em meio a este processo tão caracteristicamente humano. No entanto, há o risco da leitura ideologizada quando se dá de forma inconscientemente focada tanto no que diz respeito ao método como em relação ao seu conteúdo. Ela pode se tornar manipuladora do sentido bíblico e inflexivelmente conservadora.

Para que a Escritura oriente a Tradição para uma postura libertadora, é preciso que seja considerada no seu todo, inclusive o seu objetivo educativo evidenciado na história bíblica. O observar o contexto bíblico é fundamental para o entendimento do texto dele resultante.

A prática, ação histórica e contextual, deve ser geradora de reflexão a fim de que possua sentido e cumpra sua função educadora e transformadora da realidade.

 

A Tradição da Igreja

É preciso compreender que formular tradições faz parte da realidade humana, em sua tarefa de pensar e construir a vida. São marcos definidos com o decorrer dos tempos e que devem ser considerados, pois surgem da experiência vivencial de pessoas e grupos sociais afins. O próprio texto bíblico é resultado da elaboração e constante reelaboração das tradições orais, revitalizadas a partir de novas experiências históricas compreendidas à luz dos marcos da fé, no entanto, geradoras de novas luzes sobre eles.

Da mesma forma, como não vivemos isolados no mundo, não vivemos isolados na história e, de fato, o entendimento da revelação não é individual, mas pertencente à comunidade da fé que caminha no tempo e no espaço. Neste sentido, nenhuma geração ou comunidade cristã específica é portadora do conhecimento total de Deus possibilitado pela Escritura. “Construímos sobre construções” já iniciadas e alicerces já estabelecidos, considerando o que já foi feito, mas também em relação à novidade das perguntas do novo contexto.

O contexto, é algo fundamental a ser considerado no processo tanto de interpretação do texto bíblico, como de atualização das tradições. A Palavra de Deus se deu de forma encarnada na realidade humana e situada em contextos específicos, tanto quanto a Tradição Teológica, que surge de um esforço interpretativo da Escrituras, é realizado também por comunidades situadas, das quais  o contexto é determinante para as conclusões formuladoras das tradições. A comunidade de fé atual que recebe essas tradições e visa responder à sua realidade inspirada pelo seu conteúdo, bem como fazendo uso delas para as novas interpretações do texto bíblico, também é parte integrante de uma determinada realidade contextual que a afeta a ponto de desejar responder a ela a partir das Escrituras e da fé histórica.

Outro aspecto a ser considerado é a dinamicidade do contexto, que anda na velocidade do tempo. Portanto, embora o próprio termo tradição esteja associado à idéia de algo duradouro, este não pode ser permanente e em hipótese alguma definitivo, caso contrário não cumprirá o papel de ser a elaboração da igreja no decorrer dos tempos, para fins de compreensão da própria fé e animação da prática eclesial.

De qualquer forma, compreende-se que a Tradição Teológica não é fruto de um trabalho individual e premeditadamente realizado, mas são compreensões fixadas pelo povo da fé, ao longo de sua história e à luz das suas constantes experiências no mundo.

Que é necessário buscar uma nova compreensão sobre a importância da Tradição Teológica. E comum sempre se rejeitar o tradicional em função do novo, como se um excluísse necessariamente o outro. Mas, de fato, o novo que surge desvinculado da tradição já construída e deixada na forma de herança, corre sério risco de ser inconsistente e sem identidade.

A Tradição é fruto da própria elaboração hermenêutico-teológica da igreja ao longo da sua história e é um legado de geração a geração. Por outro lado, uma concepção da Tradição insensível aos novos tempos e novas demandas, que se mostra hermética e portadora da verdade absoluta, não serve à igreja por não cumprir o principal objetivo de todo esforço reflexivo a partir da fé, ou seja, possibilitar à cada geração, em cada tempo e lugar, o conhecimento sempre atual de Deus e sua ação constante na história.



[1] Comentário tendo como base a obra (Tradição, Sinais dos Tempos e Dogma – Capítulo III) SEGUNDO, Juan Luís. O Dogma que Liberta. São Paulo: Paulinas, 2000.

domingo, 26 de setembro de 2021

O cuidado da criação

 



 Regina Fernandes

    O próprio nome da discussão já é, por si, uma afirmação teológica, que parte da ideia de que a vida existente no mundo e seus ambientes são criaturas de Deus. De fato, tanto quanto afirmar o fato de Deus é condição fundamental para qualquer teologia, afirmar que o mundo é criação é fundamental para uma ecoteologia, que se propõe a tratar da vida no mundo em sua relação com Deus.

    Neste caso, não partimos das ciências, mas da própria Teologia, todavia, as ciências biológicas e da terra são mediações teóricas necessárias tanto para a compreensão dessa realidade de vida sobre a qual teologizamos, quanto para percebermos nas Escrituras como a vida acontecia, mesmo que relatada a partir de visão de mundo pré-científica.

    Mas estamos na América Latina, lugar originário de povos de culturas ancestrais, que ainda hoje preservam elementos importantes dessa cultura. Sabemos que o eixo fundamental dessas culturas é a relação com a Mãe Terra, como aquela que alimenta, protege e é a força da vida. A fertilidade da terra, nas suas diversas expressões, é para esses povos sinal de benção divina. Deus fala a eles por meio da terra, então ela é também lugar de sua espiritualidade. Se quisermos falar de Ecoteologia na América Latina não podemos deixar de ouvir tais saberes ancestrais, para que nossa práxis seja orientada muito mais por uma relação com a vida do que meramente por teorias teológicas sistemáticas.

Não seremos capazes de assimilar a prática do bem-viver no sentido natural dessas culturas, pois somos ocidentalizados demais para isso, mas, certamente, podemos aprender o respeito e a dedicação à terra, a construir modos de vida mais simples, a ensinar novas gerações sobre esse viver-melhor, no diálogo com tais culturas. O humano precisa sempre dar sentido às coisas que faz, e a vida é o melhor sentido para uma teologia ecológica.

Outro termo que nos chama a atenção é “cuidado”, que remete para a relação de Deus com tudo o que ele criou. Deus cuida da sua criação. Este é o ponto de partida para uma teologia ecológica. Mas ele não cuida da criação como um investidor cuida interessadamente de seu dinheiro; nem mesmo zela por ela como um pesquisador se ocupa do seu objeto de pesquisa. Talvez a relação mais próxima do cuidado de Deus é da mãe ou do pai com seus filhos e filhas. Um cuidado amoroso, orgânico e relacional. Uma teologia ecológica requer de nós a chamada para essa relação, para esse entendimento, para que seja, também, uma teologia da criação.

Neste caso, a mediação das ciências para compreendermos a vida no mundo e suas relações é indispensável. Elas também são imprescindíveis para nos orientar em uma nova práxis cristã no mundo. Mas, se quisermos falar de criação de Deus e do cuidado dela, na América Latina, precisamos também ouvir as sabedorias ancestrais e como elas nos ensinam a viver no mundo. Para falarmos de cuidado precisamos olhar para as relações humanas e aprender que temos que cuidar das coisas criadas como cuidamos daqueles que mais amamos, tal qual Deus o faz com o mundo por ele criado.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Existe um evangelicalismo radical?

 




Regina Fernandes[1]

Em várias partes de América Latina grupos que se intitulam evangélicos, de corte fundamentalista, se aliaram a governos e movimentos de extrema-direita. Tais evangélicos apresentam como principais características a perseguição sistemática ao que consideram como expressões e representações da esquerda política, sob o velho discurso da guerra fria; o negacionismo em relação à pandemia; a defesa do armamento civil; a busca pela ocupação de espaços de poder governamental, para fins de instalação de formas de cristandade; o discurso de prosperidade como ideologia religiosa; a identificação com o neoliberalismo econômico e o capitalismo que ele propõe; ações inquisitórias em relação ao que consideram como liberalismo religioso; espalhamento de fake news como estratégia de indução das massas etc. Também são marcadamente homofóbicos, defensores de supremacias brancas, machistas e mediadores de imperialismos.

Recorrência Histórica

De fato, essa não é uma novidade atual, pois na história sempre houve pessoas e grupos evangélicos se aliando a sistemas de poder na América Latina, como aconteceu na época das ditaduras militares, com as perseguições sistemáticas a todos e tudo o que era taxado de esquerda política, o que incluía teologias, teólogos e teólogas. Sob o discurso de purificação teológica e institucional líderes fundamentalistas entregaram aos militares e à tortura aqueles e aquelas que propunham teologias diferentes das suas. Rubem Alves relata na introdução da obra Da Esperança sua própria experiência com esses grupos inquisidores na época da ditadura militar no Brasil, quando ele precisou sair forçadamente do país para um doutorado não programado nos EUA, após “colegas evangélicos” de ministério o denunciarem aos militares como sendo comunista. Ele descreve a ação perversa dessas pessoas como tendo um sentido malignamente religioso, como sendo um sacrifício a Deus, de zelo cristão, entregar pessoas para a morte ou para o sofrimento. Trata-se, na realidade, de discursos que visam dar legitimidade religiosa para ações anticristãs e biblicamente reprováveis.

Sabemos que o cristianismo sempre teve grupos e expressões internas aliadas a sistemas perversos de poder, comprometendo o próprio nome da religião. De fato, apresentar-se como cristão no mundo pode remeter a uma série de significados, e, muitos deles não positivos e de bom testemunho. O mesmo podemos dizer em relação ao protestantismo desde suas origens.

Em nossa família vivenciamos experiências difíceis no cristianismo evangélico na ‘própria pele.’ Na década de 90, embora já findado o regime militar no Brasil, mas não as influências teológicas fundamentalistas e de inquisição, um pastor da Convenção Batista Nacional, instituição evangélica da qual participávamos, que morou muito tempo nos EUA e havia regressado para o Brasil, iniciou uma campanha declarada de perseguição às pessoas da denominação que manifestassem qualquer tipo de propensão, ensino ou menção da crítica bíblica, pois ele próprio se declarava como “caçador de cabeça de liberais”. Em 1995 fomos expulsos do seminário da denominação em Minas Gerais (STEB), onde morávamos com nossa família, juntamente com o pastor, doutor em Antigo Testamento e diretor do seminário na época e sua família, por termos sido taxados de liberais. A razão era que nas aulas de Antigo Testamento nosso amigo doutor do AT e de Novo Testamento ministradas por Sidney, mencionavam e estudavam os métodos críticos entre os métodos de estudos bíblicos desenvolvidos na história. O Conselho do Seminário na época demitiu os dois professores, deram às famílias o prazo de pouco mais de um mês para deixarem as residências. Tínhamos duas filhas, uma de 2 anos e a outra de seis anos naquela década. Nos deram como acerto salarial o valor correspondente (atualmente) a dois salários-mínimos.

Fizeram do evento de comunicação das medidas que seriam tomadas uma cena épica. Estávamos em aulas naquele dia e fomos chamados à capela do seminário em que a maioria dos estudantes eram internos. Na época, eu ainda cursava teologia. Em torno de onze pastores entraram pelo portão central do seminário como que marchando. O presidente da denominação se posicionou à frente na capela e os demais pastores fizeram um semicírculo à sua frente, para protegê-lo daqueles “ferozes seminaristas”. Com semblantes fechados e impositivos informaram que fariam uma limpeza de tudo o que havia sido ensinado, construído e realizado nos três anos que os dois dirigentes estiveram na instituição. Entre as ações de “limpeza” que o novo grupo que assumiu realizou esteve a queima de livros no seminário e a retirada da Biblioteca de obras consideradas liberais. Nos anos seguintes encontramos livros com o carimbo da biblioteca em sebos da cidade de Belo Horizonte. Coincidentemente, parte daqueles que participaram desse evento inquisitório assumiram também a diretoria, coordenação e cargos docentes no referido seminário. A instituição, entretanto, não suportou o desmanche, o desgoverno e a ausência de teologia daqueles pastores, e, depois de alguns anos, foi fechada e seu campus vendido para pagamento de dívidas realizadas nesse período da dita “purificação” institucional.

Se buscarmos nas influências históricas precursoras desses movimentos evangélicos encontraremos o puritanismo norte-americano que chegou à América Latina na bagagem teológica do missionarismo protestante, também encontraremos as intolerâncias do movimento fundamentalista com origem no início do século passado. Mas não podemos deixar de considerar nossa própria genética latino-americana e tendência para brigas pelo poder, nesse caso, sob bases ideológicas e teológicas vindas de fora.

Historicamente, esses grupos podem ser identificados no conjunto do movimento evangélico, pois também possuem suas raízes tanto na Reforma Protestante quanto nos avivamentos religiosos do séc. 18, que foi gerador de uma série de outros movimentos, como o metodismo e o evangelicalismo (de envolvimentos sociais), posteriormente, o pentecostalismo e o fundamentalismo. Podemos dizer que o protestantismo e seus movimentos geraram muitos filhos e com personalidades diversas. É um equívoco, até uma inocência, afirmar que tudo o que surgiu no interior do protestantismo é de fato bom.

Miguez Bonino explica o termo evangélico “em sua acepção anglo-saxã” e originária, como referente àqueles que afirmam confiança irrestrita na Bíblia, pregação da salvação em Jesus Cristo inclusive como caminho para a santidade da vida no mundo. (BONINO, 2013, p. 29). Esse movimento, que foi teológico, pois partiu de concepções teológicas, gerou em sua época de surgimento esforços evangelizadores e de envio de missionários para várias partes do mundo, espalhando os ensinos evangélicos que serviram de base para as novas igrejas fundadas nos diversos campos missionários principalmente na Ásia, África e América Latina. Das missões estadunidenses herdamos também o denominacionalismo e o fundamentalismo teológico sectário e divisionista.

O chamado protestantismo de missão foi, caracteristicamente, um movimento evangélico, no sentido histórico do termo. Ainda que tenha apresentado ações de preocupação social, geradoras de várias instituições educacionais, hospitais, editoras etc., sabemos que a maioria delas foram marcadamente desenvolvimentistas, portanto, priorizando o atendimento de elites que poderiam contribuir para o desenvolvimento econômico e político da região.

O termo evangélico surgiu associado a um movimento no período moderno referente à prática da evangelização, com um sentido pejorativo daqueles que a realizavam. Essa evangelização, como ampla pregação, estava associada a mudanças sociais, como se verificou no metodismo que nasceu no seio desse movimento, todavia, era também fruto de sua época, e, no esforço da evangelização, houve associação (aliamento) a projetos expansionistas, imperialistas e colonialistas de muitas nações.

Renovação Evangélica

Na América Latina, surgiu em meados do século passado uma nova forma de ser evangélico, que Miguez Bonino chamou de “renovação evangélica”. Esse movimento que ele associa à Fraternidade Teológica Latino-americana, descreve como:

Resgata-se e recupera-se uma tradição evangélica, particularmente ligada ao movimento anabatista dos séculos 16 e 17 e ao despertar do séc. 18 na Inglaterra e nos Estados Unidos [...] tanto na tradição reformada quanto na wesleyana, mas também às origens de nosso próprio protestantismo missionário na América Latina. Os trabalhos de Escobar, Arana e Padilla nos mostram, ao mesmo tempo, que não se trata de uma mera reinvindicação de uma tradição, e sim de buscar nela elementos que fecundem uma reflexão teológica e uma prática evangélica para a América Latina hoje. (BONINO, 2013, P. 46)

Ele ainda esclarece que o movimento da FTL teve início com a “afirmação da centralidade das Escrituras”, em resposta às hermenêuticas literalistas do fundamentalismo e aos reducionismos do liberalismo teológico, resultando em esforços hermenêutico-exegéticos significativos. Outro tema que está nas origens do movimento é o da cultura e da contextualização, conforme Bonino menciona: “Em Lausanne (1974), René Padilla rejeita a identificação da fé evangélica com o American way of life.”, defendendo, assim, o caráter encarnacional da palavra de Deus. Os aspectos “dos elementos estruturais – políticos, econômicos, sociais” latino-americanos também fizeram parte importante da pauta teológica desse evangelicalismo de renovação, não simplesmente como temas a serem tratados, mas como realidade a partir da qual se faria teologia. Ainda acrescenta que não faltou a esse movimento o espírito ecumênico necessário para que realmente fosse renovador.

Outros pensadores do protestantismo evangélico latino-americano chamaram essa forma de evangelicalismo, na qual se situa a FTL, de evangelicalismo radical. Entre essas pessoas está o bispo já falecido Robinson Cavalcanti, um de seus fundadores no Brasil.

Dentre os diversos grupos evangelicais destaca-se o que Quebedeaux chamou de “evangelicais radicais”. Este é particularmente interessante, porque embora tenha sua raiz remota no movimento de revitalização no anglicanismo britânico do século XVIII, que teve como representantes destacados nomes como o líder abolicionista William Wilbeforce, é um movimento que ganhou elaboração teórica e atuação pastoral na América Latina: o evangelicalismo radical latino-americano. O diferencial do movimento evangelical latino-americano, conforme Mark Ellingsen, está no fato que “os evangelicais radicais abraçam, talvez mais intensamente que outros, um compromisso [...] de que a ética sociocristã deve estar enraizada no testemunho bíblico e num estilo de vida regenerado”.[2]

O texto ainda acrescenta: “Como se vê, a palavra evangélico tem uma história rica de significado. Evangélico evidentemente tem a ver com a boa notícia de Deus em Cristo Jesus.”, e menciona o teólogo alemão Karl Barth que a utilizou no título de uma de suas obras: Introdução à Teologia Evangélica.

            Bonino conclui sua exposição sobre o que ele chamou de “rosto liberal” do protestantismo com a pergunta: “não seria também aqui necessário reclamar nossa identidade evangélica, examiná-la criticamente e procurar superá-la positivamente?” (BONINO, 2013, P. 47). Essa é uma pergunta que ainda faz sentido para nós hoje, pois o nome “evangélico” traz consigo uma herança histórico-teológica que vai além do próprio movimento em que ele começou a ser utilizado para um movimento mais específico, mas diz respeito às bases de nossa fé cristã. Ainda que, atualmente, o nome venha sendo usado para se referir a grupos aliados à sistemas religiosos e governos que são reconhecidamente comprometedores da vida, não se pode abandonar tudo o que ele representa em seu sentido correto e bom. Isso também se aplica ao cristianismo, nome de uma religião tão comprometido por experiências históricas tragicamente danosas, e o próprio protestantismo, que se tornou uma espécie de guarda-chuva onde se abrigam expressões religiosas boas e outras nem tão boas.   

            Não se trata de mudar o nome de evangélico ou deixar de usá-lo por causa das associações atuais a que ele vem sendo submetido, pois isso seria também abrir mão de toda a herança que ele carrega. No Brasil, o atual movimento de extrema-direita cooptou para sua propaganda um dos principais símbolos nacionais, a bandeira brasileira, mas, como abrir mão desse símbolo por ela estar sendo usada como ícone de um programa maléfico de governo e de campanha política? Afirmar-se como evangélico e, a partir dessa localização, colocar-se em disposição de diálogo ecumênico com outras expressões cristãs que também lutam pela vida, é favorecer a comunhão cristã e não entregar facilmente algo próprio de nossa identidade a grupos que o transformam em utilitário para suas investidas ideológicas, sem ao menos conhecer seus significados.

            A identificação como evangélicos progressistas, evangélicos radicais, evangélicos latino-americanos e outros termos faz parte desse processo de renovação identitária, necessário de ser sempre realizado à luz das novas questões colocadas pelo contexto e da tradição cristã que ele representa. No movimento da FTL a identificação como evangélica é um dos aspectos que a torna distinta, histórica e teologicamente, do movimento da Teologia da Libertação. Tais distinções são importantes não para gerar divisões ou intolerâncias, mas para reconhecermos as ricas contribuições de cada movimento e suas teologias, principalmente, no esforço do diálogo ecumênico.

 

Bibliografia

BONINO, José Miguez. Rostos do Protestantismo Latino-americano. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013.

FERNANDES, Regina. Introdução às Teologias Latino-americanas. Campinas: Saber Criativo, 2019.

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, Pentecostais & Ecumênicos. São Paulo: Universidade Metodista, 2008.

UNISINOS. Um ministro "terrivelmente evangélico" no STF?. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/591406-um-ministro-terrivelmente-evangelico-no-stf. Acesso em 14/06/2021.

 

  


 

 



[1] Teóloga. Mestre em Teologia e Práxis e em Missiologia, Especialista em Cultura afro-brasileira e Indígena. Coordenadora de edições da Saber Criativo.

[2] UNISINOS. Um ministro "terrivelmente evangélico" no STF?. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/591406-um-ministro-terrivelmente-evangelico-no-stf. Acesso em 14/06/2021.

domingo, 19 de setembro de 2021

Obediência da Igreja ao Estado - em Karl Barth

 



            Regina Fernandes[1]

 Os povos latino-americanos têm convivido com diversas formas de governo, desde sistemas totalitários de poder ou de extrema direita à esquerda radical. A Igreja, em suas confessionalidades predominantes, protestantismo e catolicismo, tem se posicionado e até atuado junto à essas formas de governo, por vezes como agente crítica e profética, por vezes como aliada e validadora religiosa de tais sistemas. O tema da relação entre Igreja e Estado é extremamente controverso desde o início da instituição eclesiástica, que podemos situar por volta do séc. II.

Recorremos, nesse texto, ao teólogo Karl Barth como ajuda para pensarmos essa relação entre Igreja e Estado. Antes, buscamos na teologia bíblica alguma orientação sobre o assunto. Encontramos algumas luzes na experiência de Israel no Egito, que, nas origens de sua constituição como povo de Deus, teve que enfrentar uma relação difícil com os governantes egípcios de exploração e abuso. Uma das histórias da época é das parteiras das hebreias e a ordenança que elas matassem todos os meninos nascidos em suas mãos e deixassem viver as meninas (Êx. 1.15-17). Zabatiero comenta que os meninos eram vistos como ameaças de subversão contra o Império, enquanto as meninas poderiam ser úteis nos haréns e em outras tarefas. Para tais governantes mulheres não eram ameaças. A narrativa é uma daquelas ironias que a Bíblia relata, pois foram justamente as mulheres, parteiras e gestantes, aparentemente servis e frágeis, que mudaram o curso daquela história. Elas “temeram a Deus e não obedeceram às ordens do rei do Egito; deixaram viver os meninos.” (Êx 1:17). Mentiram para não serem castigadas pela desobediência: “Responderam as parteiras do faraó: "As mulheres hebreias não são como as egípcias. São cheias de vigor e dão à luz antes de chegarem as parteiras".” (Êx 1:19):

De parteiras e gestantes! Estória de parteiras gestantes. Estranho sexo frágil. As mulheres hebreias, diziam, eram mais fortes que as egípcias. Subnutridas, exploradas, utilizadas como mão-de-obra barata. Mais fortes que as bem nutridas mulheres egípcias. Mentira das parteiras!? Mulheres hebreias, gestantes frágeis na dor, fortes na astúcia, na defesa da vida de seus filhos ameaçados pelo Império. (ZABATIERO,1993, p. 9)

O redator bíblico relata que por causa dessas atitudes “Deus foi bondoso” com as parteiras, fez crescer o povo e abençoou as suas famílias. (Êx 1. 21). Essa bela história, em tons etiológicos, explica a sobrevivência de Moisés e do próprio povo de Israel.

Em uma comparação um tanto anacrônica, podemos afirmar que aquelas mulheres foram mais corajosas e conscientes humanamente do que, por exemplo, Adolf Eichmann, político-militar e um dos organizadores do holocausto, que se colocou em plena sujeição ao des-humano governo nazista, no qual milhões de judeus assassinados. Eichmann alegou em seu julgamento que somente obedeceu às ordens de seus superiores, portanto, não era responsável por aquelas mortes. Importante lembrar que se tratava de um Estado cristão, conhecedor das tradições cristãs e das Escrituras. Aquele militar se portou como um autômato programado para obedecer a ordens e não pensar acerca delas. Ao fazer isso, rejeitou sua condição humana da liberdade de decidir por meio da consciência. Isso, certamente, não o tornou menos culpado pela morte daquelas pessoas, pois usou da liberdade da decisão humana para decidir não decidir. As parteiras agiram de modo diferente, como humanas, além de decidirem pela liberdade de consciência, decidiram pela vontade de Deus, a quem temiam. Demonstraram coragem de questionar o sistema despótico em que viviam, e não se aliaram a ele na destruição da vida.

É dessa perspectiva que ouvimos Karl Barth, que, na mesma situação histórica da Segunda Guerra mundial de Eichmann, decidiu não compactuar com o sistema nazista, como o fizeram diversos líderes cristãos. Ainda, teologizou a partir dessa experiência, pois, como teólogo e pastor, precisava compreender mais profundamente o papel da Igreja naquele contexto social e político terrível.

Barth explica que a Igreja está organizada no mundo na forma de comunidades cristãs, e o Estado é o que chama de comunidade civil. A comunidade cristã, por estar no mundo e fazer parte de sociedades, está subordinada à comunidade civil, mas adverte: “segundo o critério do seu conhecimento do Senhor, que é Senhor sobre todas as coisas, e distinguindo “por causa da consciência”, na área das possibilidades exteriores, relativas e provisórias desse círculo externo!”. Com base nesses critérios ela é capaz de discernir entre

...o Estado legítimo e o não-legítimo, isto é, entre formas e realidades políticas que se apresentam melhores ou piores, entre ordem e arbítrio, hegemonia e tirania, liberdade e anarquia, comunhão e coletivismo, entre direito da personalidade e individualismo, entre o Estado de Romanos 13 e o de Apocalipse 13. (2006, p. 297-298).

            Para ele, cabe à comunidade cristã julgar os casos e as situações de seu contexto, todavia, pensando não somente no seu próprio bem, mas no bem comum. Sob tais critérios, principalmente aqueles de ordem teológica, é responsabilidade dela (e de todo cristão e cristã)

...de caso para caso, em cada situação específica, quererá e optará pelo Estado legítimo, isto é, pelo Estado melhor em cada caso, e deixará de querer e optar pelo Estado que não seja legítimo, isto é, pelo Estado que não seja pior em cada caso. E segundo esta opção e esta vontade, ora ela se empenhará, ora se oporá. (2006, p. 297-298).

            Barth compreende a Igreja como a congregação dos cristãos, situada em algum tempo e lugar em torno da Palavra de Deus, para fins do testemunho de Jesus Cristo. A comunidade civil, reúne em convívio todas as pessoas de um lugar e tempo, sob uma ordem de direito que seja válida e obrigatória para todos (as), para fins da “liberdade exterior, relativa e provisória do indivíduo quanto a paz exterior, relativa e provisória da comunidade, e concomitante em garantir o caráter humano de sua vida e do seu convívio, também em termos exteriores, relativos e provisórios.”. Afirma ainda que isso é garantido pela: “legislação, que fixa a ordem de direito válida para todos, pelo governo e administração, nos quais ela é aplicada na prática, e pelo judiciário, que decide sobre o seu alcance em cada caso.”. (2006, p. 297-298)

            Com isso, o teólogo de Basileia deixa claro que existe uma distinção fundamental entre Igreja e Estado e critérios de relação e obediência que envolvem a ambos. Foi, certamente, baseado em tais critérios que ele se opôs ao nazismo e à Igreja estatal de sua época, mesmo com a consequência de ser expulso da Alemanha. Dietrich Bonhoeffer não teve essa mesma sorte, mas foi morto pelos nazistas por sua “insubmissão” ao Estado, por causa de sua luta pela vida e denúncia das políticas de morte.

Aprendemos com Barth e, de modo um tanto anacrônico, com as parteiras no Egito, que Igreja não é aquela que se afirma igreja, mas aquela que se mostra igreja, que busca discernir a vontade de Deus nos tempos e realizá-la nas suas relações no mundo. O papel da Igreja e dos cristãos que a formam é de luta pela vida e sempre contra todas as formas, expressões e situações em que ela, em menor ou maior grau, estiver comprometida. Todas as demais obediências e sujeições devem a esse critério teológico fundamental. Não é em vão que, na teologia bíblica, a história que fundamenta originariamente nossa fé é a história da criação e do surgimento da vida. Toda teologia bíblica nos coloca em relação diretamente com ela.

Na América Latina, em que a vida é comprometida todos os dias, de diversas formas, entre elas, através de políticas perversas e ausência de políticas justas, cabe à Igreja compreender, teologicamente, qual é o seu papel como comunidade cristã e decidir como agir em prol da vida orientada pela justiça do Reino de Deus.

 

Bibliografia

BARTH, Karl. Dádiva e Louvor. São Leopoldo: Sinodal, 2006.

SANCHES, Elissa Gabriela Fernandes. Amor e Ação no Mundo. Campinas: Saber Criativo, 2019.

ZABATIERO, Julio Paulo Tavares. De Gestantes e Parteiras.  In.: BT – Boletim Teológico FTL-Brasil. Ano 7, nº 21, julho-dezembro 1993.

 






[1] Teóloga, Presidente da FTL, Mestre em Teologia e Práxis, Mestre em Missiologia, coordenadora editorial da Editora Saber Criativo.

sábado, 18 de setembro de 2021

Falei demais! Uma entrevista não publicada sobre a Reforma Protestante

 



Regina Fernandes Sanches

 

Para a senhora quais os pontos de contribuições que a Reforma Protestante trouxe para a igreja?

REGINA - Penso que a principal contribuição foi a liberdade de estar diante de Deus, protagonizar a própria fé por meio do chamado “Sacerdócio universal de todos os crentes”. Desse ponto são derivados outros como a descentralização da liderança da Igreja, a leitura das Escrituras, participação no culto, etc.

Hoje em dia vemos uma sequência de analogias nas igrejas, é correto afirmar que algumas delas afastaram-se dos pontos básicos do movimento?

REGINA - Com certeza. O clericalismo atual nas igrejas relembra a Igreja medieval e não a Reforma. Enrijecimento doutrinário, submissão das Escrituras à tais dogmas e doutrinas, lideranças se colocando como mediadoras das pessoas e Deus e mesmo o distanciamento do povo em relação às Escrituras. Sem dúvida precisamos de novos movimentos de Reforma.

Há 500 anos, Martinho Lutero denunciava as distorções bíblicas, como podemos manter a Igreja a salvo desses problemas?

REGINA - Aplicando na vida da Igreja um dos principais universais da Reforma, ou seja “Igreja reformada sempre reformanda”, para isso a Igreja precisa fazer sua autocrítica e ficar atenta aos distanciamentos que faz não somente da verdadeira mensagem bíblica, mas da possibilidade de conhecê-la. Sabemos que a ausência da educação aliena o povo e o coloca a mercê dos desmandos de muitas pessoas que buscam benefícios próprios, é preciso estudar as Escrituras, buscar conhecê-la por nossos próprios olhos, para não sermos meramente conduzidos.

Como podemos reformar a fé cristã no século 21 sem ir de encontro com problemas semelhantes dos reformistas?

REGINA - Toda reforma verdadeira é fruto de esforços críticos aos sistemas vigentes naquilo que precisam ser reformados. Não há reforma sem crítica, sem verificação daquilo que está errado e disposição para a mudança. Como ocorreu várias vezes na história, quando surgiram movimentos de renovação, aqueles que detinham poder sempre resistiam e resistem as mudanças. Mas damos graças a Deus que sempre levanta pessoas em toda a história com coragem e ânimo para reformar, renovar e revitalizar a Igreja e seu pensamento da fé.

Como a Reforma Protestante contribuiu para os movimentos  missionários dos dias atuais?

REGINA - Os movimentos missionários atuais são diferentes daqueles do missionarismo moderno, principalmente na América Latina. Buscam realizar uma forma de missão que, embora não tenha o mesmo ritmo e alcance das missões modernas, esforça-se por ser mais abrangente da realidade do contexto. Além da proclamação do evangelho se dedicam ao cuidado das comunidades, são mais atenciosas em relação às culturas e procuram estimular mais o surgimento de igrejas autônomas. Essa forma de missão corresponde mais à forma como a missão cristã foi realizada pelos reformadores, de libertar e contribuir para colocar a Bíblia nas mãos do povo, buscar a transformação sócio-política daquela realidade histórica, produzir teologia, etc. 

O Desenvolvimento Sustentável à luz da Bíblia (ou nossa fé cristã)

 


"A Agenda 2030 é a nossa Declaração Global de Interdependência."

 

Regina Fernandes

 

Os 17 ODS foram apresentados pela ONU como modo de cumprimento da Agenda 2030. Eles dizem respeito não somente aos interesses de um órgão internacional, mas a todos os humanos que compartilham da vida no planeta e fazem parte da sociedade global. Cada segmento desta grande sociedade e povos que a integram estão responsáveis pela consecução e sucesso de tais objetivos. O caráter de interdependência da Agenda 2030 refere-se também a este esforço humano e político conjunto, depende do engajamento de países, comunidades e segmentos sociais para que as ações cumpram os efeitos integradores propostos nos objetivos de transformação do nosso mundo.

Nós cristãos, que afirmamos a fé evangélica, também estamos responsáveis, no espírito da missão cristã, por contribuir para a efetivação de tais objetivos visando a construção de um mundo melhor para todos. Trata-se da esperança cristã em realização no tempo histórico, até que possamos nos alegrar com sua consumação. Esta esperança, que nos leva a missionar na realidade presente, como apontou o Pr. Orlando Costas “Falar de esperança para um novo mundo sem envolver-se em formas concretas de fazer dele um lugar melhor para viver é negar a própria esperança”[1], encontra seus fundamentos na vontade última do Criador, do bem-viver harmônico de sua criação, revelada em seus atos criadores.

Esta vontade divina de um mundo bom é atuante nele por meio do Espírito Santo. É possível dizer que ela também está, de alguma forma, no coração humano, capaz de corresponder a ela por meio da proposição e esforços diversos, inclusive, de realização de objetivos de sustentabilidade. O discernimento teológico nos leva a compreender que todo esforço real pela restauração e preservação da vida está em sintonia com as ações vivificadoras do Espírito, pois ele é a única fonte de vida no mundo criado por Deus, como afirmou Jó (33.4): “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.” – Com isso, acreditamos que a morte, em sentido amplo, e tudo o que a provoca ou dela resulta, não é a vontade divina para a sua criação, mas uma consequência da alienação dela. Portanto, toda ação anti-vida é também contra a vontade de Deus. Assim sendo, nossa luta missional é contra tudo o que envolve o espectro da morte e a favor de tudo o que promove a vida. Trata-se de uma missão abrangente, abarcadora de toda a realidade que faz parte do interesse de Deus.

Cooperar com ações globais, regionais ou das comunidades locais na luta pela vida faz parte da missão da Igreja, tanto quanto protagonizar tais ações. São sinais do Reino de Deus expressos na realidade presente e em um mundo carente de ver o amor prevalecer perante o egoísmo. Sabemos, pelo evangelho de Jesus Cristo, que o amor é a própria definição do reinado divino, e, também, o deve ser da Igreja. Como comunidade apostólica ela está chamada a demonstrar esse amor como sinal do Reino divino, em sua missão no mundo. 

É a partir dessa compreensão que nos voltamos para as Escrituras e verificamos as bases fundamentais para nossa ação missional em relação aos ODS. Aqui comentamos os 10 primeiros:

1 - Disse um sábio há muito tempo atrás em oração: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza: dá-me só o pão que me é necessário; para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus. (Provérbios 30:8-10). Jesus, retomando as palavras desse antigo sábio, ensinou a orar: “o pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mateus 6:11). A pobreza não faz parte dos planos de Deus para a sua criação, e nem mesmo a riqueza. Ninguém deveria ter de menos e nem demais. A erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões passa, necessariamente, pela distribuição equitativa da riqueza do mundo. Missionar, portanto, é lutar pela erradicação da pobreza e contra a acumulação de riquezas.

2 - Conforme os textos da criação, a humanidade foi criada para usufruir da terra e cuidar dela: “Disse Deus: "Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês.” (Gênesis 1:29). Humanidade e terra foram criadas em relação de interdependência e cuidado mútuo. O ser humano cuida da terra e ela provê o alimento. Isso implica que a pobreza, a carência, a fome, a falta de lugar para habitar e de onde retirar o alimento não fazem parte dos propósitos originais do Criador. A terra foi dada para todos em todos os tempos. Combater a fome e suas consequências é cooperar com o agir do Espírito Santo no mundo em prol da vida. A ordem de Jesus aos discípulos de alimentar a multidão no episódio da multiplicação dos pães foi fruto de sua íntima compaixão: "Tenho compaixão desta multidão; já faz três dias que eles estão comigo e nada têm para comer.” (Marcos 8:2). Ela ainda ecoa e é orientadora de uma missão que deve abranger todos os aspectos da vida.

3 - Jesus e os seus discípulos realizaram várias curas físicas (Mt. 19.2; Mc. 6.13; Lc 8.48, 10.9; At. 28.9). Isto revela que a saúde das pessoas é importante para Deus e que a Igreja é também enviada para promover a saúde física das pessoas nas diversas formas que estiver ao seu alcance. Para o bem-estar humano a saúde é uma exigência fundamental. Sabemos que tem aumentado a expectativa de vida em muitos lugares de mundo, mas nem todos tem acesso a ela e continuam sendo vítimas da ausência de políticas públicas eficazes na área da saúde. É preciso compreender que curar os doentes também passa pela luta dos cristãos e cristãs pelo investimento governamental na saúde pública e esforços da Igreja em cuidar das pessoas que dela necessita.

4 -  A educação faz parte da tradição judaica herdada pelo cristianismo, que é uma religião de livros, de conhecimentos, ideias e saberes. O Ocidente foi marcado historicamente pela educação proposta pela religião cristã. Não é possível a promoção humana sem educação de qualidade. Conforme o Relatório de Monitoramento Global da Educação 2017/18, 264 milhões de crianças e jovens não frequentam a escola, ainda alertam: “A responsabilização não pode ser atribuída com facilidade a atores únicos porque resultados educacionais ambiciosos dependem de múltiplos atores cumprirem responsabilidades, muitas vezes, compartilhadas.”. Uma educação de qualidade certamente contribuirá para diminuição da pobreza, erradicação da fome, promoção da mulher nas sociedades em geral, visto que a maioria dos adultos analfabetos no mundo são mulheres. Cabe aos cristãos, à luz de sua renovada consciência humana, ocupar-se de projetos de educação, erradicação do analfabetismo, promoção da educação de qualidade, até mesmo para fins de crescimento conceitual do povo cristão.

5 - De acordo com o relato bíblico da criação da humanidade o homem se sentiu solitário no mundo, mesmo convivendo com diversos animais. Deus fez a mulher: “Disse então o homem: ‘Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne.’” (Gênesis 2:23). O homem reconheceu que a mulher era igual a ele, um outro humano que compartilharia com ele o mundo e a tarefa de cuidar de tudo o que foi criado. A mulher foi criada por Deus com toda a dignidade própria do humano, tanto quanto o homem. É responsabilidade da Igreja promover a igualdade de gênero, orientada pela teologia bíblica, tanto em suas relações humanas e ministeriais internas quanto, por meio de sua tarefa pública no mundo.

6 - A face das águas foram, originalmente, habitação do Espírito de Deus: “e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.” (Gênesis 1:2). O Salmo 104 também anuncia que as águas obedecem a voz de Deus (Sl. 104. 5-7). A superfície de nosso planeta é formada, em sua maior parte de água, entretanto, com uma pequena porcentagem sendo potável. O Brasil concentra a maior parte de água doce do mundo. A poluição das águas, os problemas de saneamento, a má distribuição dos recursos hídricos, são um atentado contra toda forma de vida no mundo, pois a água é um elemento fundamental para a vida. Conscientizar sobre o uso da água, preservá-la e lutar pela sua recuperação é tarefa de todos os segmentos sociais, inclusive da Igreja, principalmente por causa de seu compromisso com o Deus que criou as águas e que as comanda.


7 - Este ODS envolve assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos. Isto requer a utilização de fontes de energia limpa e que não causam danos maiores ao ambiente, como a solar, eólica, geotérmica, maremotriz e hidráulica. O mundo em que vivemos é tecnológico, portanto, o acesso à energia resulta em melhoria de condições de vida e possibilidade de participação nos inúmeros recursos atuais de mobilidade, saúde, comunicação, educação etc. No chamado Mandato Cultural de Gên. 1.26-28 estão implícitas as ordens para homem e mulher desenvolverem o mundo criado, fazer cultura e organizar seu modo de vida. A criação de tecnologias para manipulação e utilização de fontes de energia faz parte do cumprimento dessa ordem, mas considerando que no conjunto do mandato está também a ordenança de cuidar (dominar) do mundo criado. Biblicamente, o usufruto dos recursos do mundo não pode ser de modo destruidor ou que venha a exauri-los, mas deve ser realizado de forma consciente e sustentável.

 8 - “ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo.” (Gênesis 2:5) – O trabalho é dom de Deus e antecede a queda humana. Faz parte da natureza humana trabalhar para retirar da terra seu alimento. Desta forma, o desemprego não somente compromete a boa alimentação, mas a própria dignidade da mulher e do homem. Todavia, o aumento da oferta de empregos depende do desenvolvimento econômico da região, que também possibilita maior acesso a educação, saúde e outros requisitos do trabalho. Quando a Igreja assume seu papel na dinâmica do Reino de Deus no mundo e coopera para o desenvolvimento econômico de uma região, atua para a melhoria de vida de inúmeras pessoas e para a promoção da dignidade humana.

9 - A industrialização inclusiva e sustentável e fomento da inovação são fatores indispensáveis no mundo atual para gerar empregos e promover o bem-estar da criação. A industrialização, braço fundamental do capitalismo moderno, trouxe consigo, além da modernização e geração de recursos econômicos, a destruição do meio-ambiente, disparidades econômicas e sociais etc. Da mesma forma como o profeta Amós denunciou o desenvolvimento injusto e exclusivista do Reino de Israel, cabe à Igreja denunciar toda forma de injustiça e danos ambientais e sociais causadas por uma industrialização não sustentável ambiental e socialmente.

10 - O apóstolo Tiago advertiu que não devemos receber bem uma pessoa rica em nosso meio e desprezar as mais pobres (2.1-8). Os profetas do Antigo Testamento denunciaram as injustiças sociais praticadas tanto no Reino do Norte como no Reino do Sul, a ponto de ser uma das razões pelas quais Deus rejeitava o culto de Israel. Os sábios de Israel também exortaram sobre o tratamento ao pobre: "Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados". (Provérbios 31:8,9). A luta contra as injustiças e as desigualdades sociais é requisito indispensável da Igreja em missão e sinaliza a presença do Reino de Deus em nossa realidade presente.

 



[1] COSTAS, Orlando E. A Vida No Espírito. In.: Boletín Teológico, México, 18 (21-22): 7-24, jun. 1986, p. 59.

Uma teologia das Fake News


Regina Fernandes

Dizem que “as pessoas acreditam naquilo que elas querem acreditar”. Esta é, de fato, a condição de possibilidade das falsas notícias/informações. O ambiente propício para a disseminação desse vírus é a indisposição pela busca da verdade, a falta de autonomia de consciências individuais ou coletivas e, em perspectiva teológica, a maldade de muitos.

As chamadas Fake News não são simples mentiras ou equívocos de informações, mas são notícias falsificadas propositalmente, construídas com a finalidade de distorcer alguma informação e desacreditar algo, alguém, grupos, ideias etc. Outra característica delas é que são rasas, superficiais, mas são construídas e apresentadas com aparência de seriedade. São espalhadas, geralmente, em larga escala, pois, mesmo que se comprove que eram falsas elas já causaram danos, cumprindo sua principal finalidade. São novos meios de manipulação e dominação principalmente das massas e daqueles des-informados.

Na atualidade, as novas tecnologias da comunicação são o principal canal pelo qual as falsas informações são propagadas em todo o mundo. Verificar o tempo todo a veracidade daquilo que chega até nós tornou-se tarefa impossível de ser feita, por isso, não podemos espalhar precipitadamente. Resta-nos a constante suspeita e o esforço pela busca da verdade naquilo que queremos permitir nos influenciar, a fim de não nos tornarmos “massa de manobra” a projetos de poder de pessoas ou grupos que manipulam informações, até mesmo teológicas, em benefício próprio, isso nas redes sociais, nas comunidades, nas igrejas e onde haja ensino e informação.

Como cristãos sabemos que um dos assuntos mais importantes na Bíblia é a questão da verdade, em todas as suas formas e expressões. Quem mais fala sobre ela é João em seu evangelho, ao apresentar Jesus como a fonte, o caminho e a razão da verdade. Na Bíblia toda, aliás, há uma defesa da verdade por meio dos relatos e narrativas. Por exemplo, no deserto Corá, Datã e Abirão se levantaram contra Moisés requerendo a liderança com o argumento de que se todos eram santos porque somente Moisés e Arão poderiam liderar (Nm 16). Basearam seu movimento em suposições, e, sem a verificação da verdade, espalharam essa suposta informação entre o povo para conseguir apoio em seu levante. Convenceram, com isso, pessoas importantes na congregação: “varões de nome”. O questionamento parece fazer sentido, tem cara de verdade, mas quando verificado no conjunto da história do chamamento de Moisés diríamos aos três:

_ Vocês manipularam os fatos para conseguir poder sobre o povo, pois Moisés e Arão não foram chamados por serem santos, aliás, não o eram, não foi por mérito deles, mas porque Deus os escolheu! - Essa é a informação bíblica.

Os profetas tiveram que lidar constantemente com os falsos profetas, que pronunciavam falsas notícias com a intenção de auto-promoção, principalmente para permanecerem na corte dos reis aproveitando seus privilégios. Não se constrangiam em enganar o povo e induzi-lo ao erro, mesmo que isso resultasse em sua destruição (Jr. 23.16-18). Eram como parasitas sustentados por falsos anúncios. Um dos casos mais famosos foi o de Jeremias com o profeta Hananias (Jr 28). Jeremias anunciou a destruição de Judá por causa de seus pecados de idolatria e injustiça, orientou a submissão ao rei da Babilônia como uma forma de “mal menor”. Hananias contradisse Jeremias substituindo seu anúncio por um falso anúncio, no qual Nabucodonor seria vencido em pouco tempo. Certamente que o povo preferiu uma “aparente” boa notícia a uma notícia terrível ainda que verdadeira. Judá foi tomada pelos babilônios, conforme predisse Jeremias, e essa é uma história que conhecemos bem.

No Novo Testamento sabemos que os líderes judeus espalharam “falsas verdades” sobre Jesus a fim de que ele fosse perseguido e preso, e conseguiram. Sabemos que eles ficavam o tempo todo à espreita de Jesus para “pegá-lo” em suas palavras, com a intenção de usá-las indevidamente para construir argumentos contra ele (Lc 11.53-54). Sabemos também que um dos grandes problemas da Igreja neotestamentária foram as calúnias levantadas sobre ela, que resultaram em perseguição e morte de muitos cristãos.

Podemos dizer que uma das pessoas que mais sofreu com as “falsas notícias” foi o apóstolo Paulo. Em todo o seu ministério ele teve que lidar com a perseguição dos chamados cristãos judaizantes, que não se conformavam com a abertura de seus ensinos e missão aos gentios, uma novidade difícil de aceitar para aquelas pessoas que, embora convertidas ao cristianismo, se entendiam como guardiãs das tradições judaicas (Gl 4.16; I Co 13.6; At 24.5-8). Disseminavam mentiras acerca de Paulo e seus ensinos (Gl 2:4). No caso dos gálatas, por exemplo, Paulo os acusou de acreditar com facilidade nas “falsas verdades” daqueles “falsos” cristãos sobre ele, não buscaram a verdade. Por causa disso, eles estavam se afastando do verdadeiro evangelho de Jesus Cristo e da liberdade que os beneficiava diretamente como cristãos gentios.

Talvez possamos afirmar, de modo metafórico, que a mais desastrosa Fake News de toda a história da criação e que está na base histórico-teológica dessas ocorridas no contexto bíblico e mesmo daquelas que enfrentamos atualmente, conforme apontou o Pr. Caio Fábio no livro Síndrome de Lúcifer, foi aquela da serpente no Éden. Conforme o relato bíblico (Gn 1-3), Deus ordenou algo ao casal humano, mas a serpente tomou a ordenança verdadeira de Deus e substituiu-a por uma falsa informação, com a aparência de ser mais verdadeira do que a de Deus por causa das falsas informações que a baseava. Onde estão as bases da não verdade da serpente? – No interior da sua notícia falsa está o erro: Deus é Deus porque conhece e o humano somente é humano porque não conhece. A teologia aponta de diversas formas os danos dessa sedução da humanidade pela obtenção de um poder que nunca pertenceu a ela.

Um exemplo do mal das Fake News em nossos tempos, não desconsiderando seu principal lugar de afecção que é o espaço político (mas não é nossa intenção tratar disso agora, ao menos não diretamente), é a Teologia Latino-americana. Ela iniciou no final da década de 60 e, desde seu surgimento, tem sido alvo das mais criativas des-informações com a intenção de distorcer suas ideias e enfraquecê-la. Normalmente, as fontes dessas notícias falsas não conhecem a TLA, não se ocuparam com seu estudo criterioso ou verificação da sua práxis. Se apropriam de alguns pontos isolados de suas ideias (o que é o método das Fake News), reconstroem enunciados falsos sobre ela e espalham nos espaços de comunicação relacionando-a àquilo que se transformou em seus “moinhos de vento”: “ela é marxista”, “ela é liberal”, “ela é um mal”.

Normalmente, os profetas das Fake News contra a TLA se autopromoveram como guardiães da sã doutrina e, na realidade, combatem impiedosamente tudo o que é diferente daquilo que eles defendem. Eles a temem, não somente por causa da novidade que ela representa, o que por si só já os assusta, mas porque ela se apresenta como uma teologia contextualizada, que irrompeu da nossa cultura e condições sócio-históricas, e não se submete aos métodos por eles universalizados e sacralizados. São pessoas que, com raras exceções, nunca pisaram no chão que a TLA pisa e nem se permitiram tocar por sua poeira, como dos assentamentos de pessoas sem-terra ou sem-teto, aldeias indígenas, igrejas de periferia, comunidades quilombolas etc. Estão, geralmente, resguardados em seus gabinetes protegidos por livros de onde espalham falsas informações.

Neste caso, tais informações falsas são apresentadas com cara de verdades, maquiadas com um vocabulário teológico rebuscado ou com a veemência de quem entrega uma profecia, para convencer desavisados, aqueles que não se protegem com a suspeita e não estão preocupados com a busca pela verdade. A intenção é lançar propositalmente a dúvida.

Muitos se permitem induzir, porque em tempos de Fake News o que importa não é a verdade, mas o que mais se parece com ela, entretanto, que me seja favorável. A serpente do Gênesis continua fazendo sucesso com seu método da não verdade com cara de verdade, pelo plano de ocupar o lugar de Deus na vida dos humanos e, assim, controlar seus destinos.

 



 

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