quinta-feira, 30 de setembro de 2021

TEOLOGIA POLÍTICA DE JOHANN BAPTIST METZ

 

 Johann Baptist Metz, teólogo católico alemão articulador de uma forma de Teologia Política europeia, falecido no ano de 2019, foi um dos influenciadores da Teologia Latino-americana, principalmente da Teologia da Libertação. É possível reconhecer traços do seu pensamento nas produções teológicas a partir de nosso continente e isso também se atesta na bibliografia utilizada.

Foi aluno de Karl Rahner, mas preferiu articular a teologia com a prática e com as situações da sociedade de seu tempo. Para Metz era importante ver as incidências da escatologia e da esperança na vida política. Ele não tinha a intenção de criar uma teologia, mas buscava descobrir “um traço essencial da consciência teológica”. O político, a partir do iluminismo, conforme ele, passou por um processo de emancipação e autonomia resultando em outra ordem política – uma ordem de liberdade: onde as estruturas políticas já não são dadas previamente à liberdade humana; estruturas políticas como realidades baseadas na história, assumidas e modificadas pelo humano; história política como história da liberdade;

Em sua teologia política Metz propõe a distinção entre Estado e Sociedade, uma diferenciação antitotalitária que permite diferenciar a esfera pública do Estado ou da Igreja. Segundo ele a falta dessa distinção gerou: teologias políticas autoritárias e repressivas que visavam instaurar um “Estado Cristão”. Para Metz o Político é o lugar próprio da liberdade e afirma que todo pensamento que não considere os questionamentos do iluminismo é pré-crítico; que toda reflexão que dele toma conhecimento é pós-crítica.

Para Metz o Iluminismo e Marx consideraram a religião como uma ideologia que surgiu de estruturas sociais e históricas determinadas, mas, a resposta do cristianismo e da Teologia foi relegar a plano secundário as questões sociais, insistindo em seu aspecto privado. Tratou a vida de fé como opção pessoal e, neste caso, com a necessidade de abstração do mundo social em que se vive. Com isso, ela não respondeu ao iluminismo e às suas questões. Tal versão privada e intimista do cristianismo é própria das teologias transcendentalistas, existencialistas e personalistas.

Diante disso, a primeira tarefa da Teologia Política é a desprivatização da própria fé que permitir criticar “os fundamentos da teologia”. A Tarefa da Teologia Política é determinar o novo tipo de relação entre religião e sociedade, igreja e sociedade, fé escatológica e prática social, ou seja, teoria e prática; fazer uso da reflexão pós-crítica; recuperar para o tempo atual a memória Christi: “Memória da chegada do Reino de Deus no amor de Jesus para com os marginalizados”. Também é seu papel a proclamação da salvação através das promessas de liberdade, justiça e paz, como reservas escatológicas “o cunho provisório de todo estado histórico alcançado pela sociedade”; fazer, com isto, da igreja uma instituição crítica da sociedade. Sua missão crítica se definirá como um serviço à história da liberdade, um serviço de libertação do ser humano.

A igreja, e não o cristão isolado, é então o sujeito da práxis libertadora animada pela mensagem evangélica. Para isso a igreja precisará ser uma instituição não-repressiva; ser uma instituição em segunda-potência, crítica e libertadora; conscientizar-se de que ela não existe em função de si mesma, mas pregando a mensagem do reino de Deus “vive na permanente proclamação de sua precariedade”. Para isso a Igreja precisará de um novo acercamento das Escrituras e de uma nova práxis.

Regina Fernandes

 

 

 

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