Regina Fernandes Sanches
Para a senhora quais os pontos de contribuições que
a Reforma Protestante trouxe para a igreja?
REGINA - Penso que a principal
contribuição foi a liberdade de estar diante de Deus, protagonizar a própria fé
por meio do chamado “Sacerdócio universal de todos os crentes”. Desse ponto são
derivados outros como a descentralização da liderança da Igreja, a leitura das
Escrituras, participação no culto, etc.
Hoje em dia vemos uma sequência de analogias nas
igrejas, é correto afirmar que algumas delas afastaram-se dos pontos básicos do
movimento?
REGINA - Com certeza. O clericalismo atual
nas igrejas relembra a Igreja medieval e não a Reforma. Enrijecimento
doutrinário, submissão das Escrituras à tais dogmas e doutrinas, lideranças se
colocando como mediadoras das pessoas e Deus e mesmo o distanciamento do povo
em relação às Escrituras. Sem dúvida precisamos de novos movimentos de Reforma.
Há 500 anos, Martinho Lutero denunciava as
distorções bíblicas, como podemos manter a Igreja a salvo desses problemas?
REGINA - Aplicando na vida da Igreja um
dos principais universais da Reforma, ou seja “Igreja reformada sempre
reformanda”, para isso a Igreja precisa fazer sua autocrítica e ficar atenta
aos distanciamentos que faz não somente da verdadeira mensagem bíblica, mas da
possibilidade de conhecê-la. Sabemos que a ausência da educação aliena o povo e
o coloca a mercê dos desmandos de muitas pessoas que buscam benefícios
próprios, é preciso estudar as Escrituras, buscar conhecê-la por nossos
próprios olhos, para não sermos meramente conduzidos.
Como podemos reformar a fé cristã no século 21 sem
ir de encontro com problemas semelhantes dos reformistas?
REGINA - Toda reforma verdadeira é fruto
de esforços críticos aos sistemas vigentes naquilo que precisam ser reformados.
Não há reforma sem crítica, sem verificação daquilo que está errado e
disposição para a mudança. Como ocorreu várias vezes na história, quando
surgiram movimentos de renovação, aqueles que detinham poder sempre resistiam e
resistem as mudanças. Mas damos graças a Deus que sempre levanta pessoas em
toda a história com coragem e ânimo para reformar, renovar e revitalizar a
Igreja e seu pensamento da fé.
Como a Reforma Protestante contribuiu para os
movimentos missionários dos dias atuais?
REGINA - Os movimentos missionários atuais são diferentes daqueles
do missionarismo moderno, principalmente na América Latina. Buscam realizar uma
forma de missão que, embora não tenha o mesmo ritmo e alcance das missões
modernas, esforça-se por ser mais abrangente da realidade do contexto. Além da
proclamação do evangelho se dedicam ao cuidado das comunidades, são mais
atenciosas em relação às culturas e procuram estimular mais o surgimento de
igrejas autônomas. Essa forma de missão corresponde mais à forma como a missão
cristã foi realizada pelos reformadores, de libertar e contribuir para colocar
a Bíblia nas mãos do povo, buscar a transformação sócio-política daquela realidade
histórica, produzir teologia, etc.
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