sábado, 18 de setembro de 2021

Falei demais! Uma entrevista não publicada sobre a Reforma Protestante

 



Regina Fernandes Sanches

 

Para a senhora quais os pontos de contribuições que a Reforma Protestante trouxe para a igreja?

REGINA - Penso que a principal contribuição foi a liberdade de estar diante de Deus, protagonizar a própria fé por meio do chamado “Sacerdócio universal de todos os crentes”. Desse ponto são derivados outros como a descentralização da liderança da Igreja, a leitura das Escrituras, participação no culto, etc.

Hoje em dia vemos uma sequência de analogias nas igrejas, é correto afirmar que algumas delas afastaram-se dos pontos básicos do movimento?

REGINA - Com certeza. O clericalismo atual nas igrejas relembra a Igreja medieval e não a Reforma. Enrijecimento doutrinário, submissão das Escrituras à tais dogmas e doutrinas, lideranças se colocando como mediadoras das pessoas e Deus e mesmo o distanciamento do povo em relação às Escrituras. Sem dúvida precisamos de novos movimentos de Reforma.

Há 500 anos, Martinho Lutero denunciava as distorções bíblicas, como podemos manter a Igreja a salvo desses problemas?

REGINA - Aplicando na vida da Igreja um dos principais universais da Reforma, ou seja “Igreja reformada sempre reformanda”, para isso a Igreja precisa fazer sua autocrítica e ficar atenta aos distanciamentos que faz não somente da verdadeira mensagem bíblica, mas da possibilidade de conhecê-la. Sabemos que a ausência da educação aliena o povo e o coloca a mercê dos desmandos de muitas pessoas que buscam benefícios próprios, é preciso estudar as Escrituras, buscar conhecê-la por nossos próprios olhos, para não sermos meramente conduzidos.

Como podemos reformar a fé cristã no século 21 sem ir de encontro com problemas semelhantes dos reformistas?

REGINA - Toda reforma verdadeira é fruto de esforços críticos aos sistemas vigentes naquilo que precisam ser reformados. Não há reforma sem crítica, sem verificação daquilo que está errado e disposição para a mudança. Como ocorreu várias vezes na história, quando surgiram movimentos de renovação, aqueles que detinham poder sempre resistiam e resistem as mudanças. Mas damos graças a Deus que sempre levanta pessoas em toda a história com coragem e ânimo para reformar, renovar e revitalizar a Igreja e seu pensamento da fé.

Como a Reforma Protestante contribuiu para os movimentos  missionários dos dias atuais?

REGINA - Os movimentos missionários atuais são diferentes daqueles do missionarismo moderno, principalmente na América Latina. Buscam realizar uma forma de missão que, embora não tenha o mesmo ritmo e alcance das missões modernas, esforça-se por ser mais abrangente da realidade do contexto. Além da proclamação do evangelho se dedicam ao cuidado das comunidades, são mais atenciosas em relação às culturas e procuram estimular mais o surgimento de igrejas autônomas. Essa forma de missão corresponde mais à forma como a missão cristã foi realizada pelos reformadores, de libertar e contribuir para colocar a Bíblia nas mãos do povo, buscar a transformação sócio-política daquela realidade histórica, produzir teologia, etc. 

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