“Portanto, deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". (Lucas 20:25)
Lucas
relata nesse episódio que os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes
colocaram espiões para “pegar” Jesus em algum fala. Eram maliciosos e em nome
de um suposto zelo religioso queriam a todo custo prendê-lo. Os espiões, homens
que também se fingiam justos, perguntaram à Jesus se era certo pagar impostos a
César. A pergunta era capciosa, pois se Jesus respondesse que sim pareceria
estar favorecendo o Império Romano e validando a exploração do povo, se
dissesse que não, estaria defendendo a rebelião ao Império, o que poderia
resultar em sua prisão. Outro problema
era em relação ao culto, pois dar dinheiro a Cesar seria, de certa forma,
também validar o culto ao imperador conforme a inscrição na própria moeda: “Tibério
César, Filho Divino do Venerável Augusto”.
Jesus
perguntou a eles a quem pertencia a moeda que tinham em mãos, por meio da sua
inscrição. Responderam: César. – Jesus então disse: devolvam a César o que
pertence a ele e deem a Deus o que pertence a Deus.
César era
o sinônimo da ganância, a personificação da vaidade, o narcisismo em sua mais
pungente expressão, e, tudo isso, pela busca das riquezas e do poder que elas
trazem consigo. Devolver o dinheiro a César significava dar a ele (e ao império
que ele representava) aquilo que mais bem o significava, ao que ele estava
reduzido. Ele não passava daquela inscrição na moeda, pois a riqueza e o poder
eram o seu próprio sentido.
“Dar a
Deus o que pertence a Deus”. O que pertence a Deus? Gênesis 1.1 relata que “No
princípio Deus criou os céus e a terra.”, portanto, a Deus pertence tudo, o
mundo e a vida que nele habita, tudo o que ele criou, como cantou o salmista: “Os
céus são teus, e tua também é a terra; fundaste o mundo e tudo o que nele
existe.” (89:11). Deus não precisa das moedas de César para ter poder sobre o
mundo que pertence a ele e a vida por ele criada também não pode ser reduzida à
isso. Precisamos entender a quem, de fato, servimos.
Somos
apegados ao dinheiro e, muitas vezes, reduzimos nossa luta pela justiça a uma
luta pelo dinheiro e pelo poder que ele confere nas nossas sociedades
materialistas. Por vezes, deixamos de enxergar as pessoas e a vida pelas quais
lutamos, e elas se tornam como uma massa disforme diante de nós, já não
reconhecemos seus traços. A luta, quando isto acontece, torna-se um fim em si
mesma e já sucumbiu não somente a César, mas aos espiões dos religiosos,
aqueles que fingem ser guardiães da fé correta, mas não passam de pessoas que
transformaram a religião na moeda de César: meios de ter poder.
Quando
reduzimos nossa luta também a uma luta partidária, seja qual partido for,
incorremos no mesmo erro: perdemos de vista aqueles e aquelas pelas quais
lutamos. O poder se torna a finalidade e damos a César o que é de Deus. Não se
trata de um não envolvimento político e social do cristão, da cristã e da
Igreja, ao contrário disso, trata-se, entretanto, de agir no mundo não limitado
à sua própria justiça, conforme ensinou Jesus: “Pois eu lhes digo que se a
justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de
modo nenhum entrarão no Reino dos céus". (Mt 5:20). A justiça do Reino de
Deus vai para além de qualquer justiça desse mundo, e, como cidadãos dele é ela
que representamos. Não se trata aqui também de uma justiça espiritual (ou
espiritualizada), mas de discernir todos os dias o que é bom,
Neste
caso, o dinheiro quando bem usado pode ser caminho para fazer o bem, para
ajudar, para suprir necessidades da vida. Mas, ele não é a razão de nossa luta,
não é o significado de nossas vidas e nem a razão de nossas vivências.
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