O
próprio nome da discussão já é, por si, uma afirmação teológica, que parte da
ideia de que a vida existente no mundo e seus ambientes são criaturas de Deus.
De fato, tanto quanto afirmar o fato de Deus é condição fundamental para
qualquer teologia, afirmar que o mundo é criação é fundamental para uma ecoteologia,
que se propõe a tratar da vida no mundo em sua relação com Deus.
Neste
caso, não partimos das ciências, mas da própria Teologia, todavia, as ciências
biológicas e da terra são mediações teóricas necessárias tanto para a
compreensão dessa realidade de vida sobre a qual teologizamos, quanto para
percebermos nas Escrituras como a vida acontecia, mesmo que relatada a partir
de visão de mundo pré-científica.
Mas
estamos na América Latina, lugar originário de povos de culturas ancestrais,
que ainda hoje preservam elementos importantes dessa cultura. Sabemos que o
eixo fundamental dessas culturas é a relação com a Mãe Terra, como aquela que
alimenta, protege e é a força da vida. A fertilidade da terra, nas suas
diversas expressões, é para esses povos sinal de benção divina. Deus fala a
eles por meio da terra, então ela é também lugar de sua espiritualidade. Se
quisermos falar de Ecoteologia na América Latina não podemos deixar de ouvir
tais saberes ancestrais, para que nossa práxis seja orientada muito mais por
uma relação com a vida do que meramente por teorias teológicas sistemáticas.
Não
seremos capazes de assimilar a prática do bem-viver no sentido natural dessas
culturas, pois somos ocidentalizados demais para isso, mas, certamente, podemos
aprender o respeito e a dedicação à terra, a construir modos de vida mais
simples, a ensinar novas gerações sobre esse viver-melhor, no diálogo com tais
culturas. O humano precisa sempre dar sentido às coisas que faz, e a vida é o
melhor sentido para uma teologia ecológica.
Outro
termo que nos chama a atenção é “cuidado”, que remete para a relação de Deus
com tudo o que ele criou. Deus cuida da sua criação. Este é o ponto de partida
para uma teologia ecológica. Mas ele não cuida da criação como um investidor
cuida interessadamente de seu dinheiro; nem mesmo zela por ela como um
pesquisador se ocupa do seu objeto de pesquisa. Talvez a relação mais próxima do
cuidado de Deus é da mãe ou do pai com seus filhos e filhas. Um cuidado
amoroso, orgânico e relacional. Uma teologia ecológica requer de nós a chamada
para essa relação, para esse entendimento, para que seja, também, uma
teologia da criação.
Neste
caso, a mediação das ciências para compreendermos a vida no mundo e suas relações
é indispensável. Elas também são imprescindíveis para nos orientar em uma nova
práxis cristã no mundo. Mas, se quisermos falar de criação de Deus e do cuidado dela, na América Latina, precisamos também ouvir as sabedorias ancestrais e como
elas nos ensinam a viver no mundo. Para falarmos de cuidado precisamos
olhar para as relações humanas e aprender que temos que cuidar das coisas
criadas como cuidamos daqueles que mais amamos, tal qual Deus o faz com o mundo
por ele criado.
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